Cálculo da Numeração das Cabeceiras de Pistas de Pouso e Decolagem
- Adauto Costa
- 6 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jun.
Uma pista de pouso e decolagem é uma área retangular definida, em um aeródromo terrestre, para o pouso e decolagem de aeronaves. As cabeceiras das pistas são identificadas por dois algarismos, que indicam o seu alinhamento em relação ao norte magnético. Como obter estes números?

Alinhamento da Pista
O azimute, na cartografia e na geodésia, é definido como o ângulo medido no sentido horário a partir do norte geográfico até a linha que liga um ponto de origem a um ponto de destino. Essa medida varia de 0° a 360°, sendo, por exemplo, 90° a direção leste. É amplamente utilizado em navegação terrestre, levantamentos topográficos, geoprocessamento e cálculos geodésicos.
Na aeronáutica, utiliza-se o conceito de rumo para indicar a direção para a qual o nariz da aeronave está apontando, considerando o norte como referência. Esse rumo pode ser verdadeiro, quando relacionado ao norte geográfico, ou magnético, quando relacionado ao norte magnético. Assim como o azimute, o rumo também varia de 0° a 360°, sendo 0° ou 360° o norte, 90° o leste, 180° o sul e 270° o oeste. O rumo é fundamental na navegação aérea, no planejamento de voo e na operação dos instrumentos da aeronave.
Toda pista de pouso e decolagem possui um alinhamento definido. Na terminologia aeronáutica, esse alinhamento é chamado de rumo verdadeiro da pista, que representa o ângulo entre o norte geográfico e o eixo longitudinal da pista, medido no sentido horário.
Do ponto de vista da engenharia cartográfica, essa mesma medida é conhecida como azimute verdadeiro da pista. Ou seja, quando um engenheiro cartógrafo determina o alinhamento de uma pista, ele está atribuindo a ela um azimute verdadeiro, que corresponde exatamente ao rumo verdadeiro utilizado pelos pilotos e controladores de tráfego aéreo.
Observe que este azimute calculado deve ser o azimute geodésico, ou seja, o ângulo medido sobre a superfície do elipsóide de referência, levando em consideração a curvatura da Terra. No entanto, em situações onde as distâncias envolvidas são curtas — como no caso do alinhamento de pistas de aeródromos — é comum utilizarmos o azimute plano, calculado em um sistema de coordenadas planas (como UTM), sem perda significativa de precisão.
Declinação Magnética
Antes de obter a numeração das cabeceiras, é necessário determinar a Declinação Magnética no centro da pista, mais precisamente no ARP (Aerodrome Reference Point), que é o ponto de referência oficial do aeródromo. A declinação magnética representa a diferença angular entre o norte geográfico (verdadeiro) e o norte magnético, variando conforme a localização geográfica e mudando com o tempo devido ao movimento do campo magnético da Terra.

Uma maneira prática e confiável de obter esse valor é utilizando a ferramenta online do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) chamada Magnetic Declination Estimated Value. Ao fornecer as coordenadas geográficas do ARP e a data de interesse, o sistema retorna a declinação magnética estimada para aquele ponto, com base no modelo geomagnético atual. Essa estimativa é bastante precisa e amplamente aceita para aplicações aeronáuticas e cartográficas. Vamos chamar essa declinação de D.

Calculando o Rumo Magnético
Veja neste exemplo prático como obter o Rumo Magnético de uma pista de pouso.
Primeiro desenhamos a pista a partir das coordenadas das cabeceiras. Estamos trabalhando com coordenadas planas, no caso UTM.

Feito isso, o norte verdadeiro pode ser simplificado como uma linha ortogonal apontando sempre para cima.

Calculamos agora o valor do Rumo Verdadeiro (Rv) para cada cabeceira. Observe que ele é calculado no sentido horário do alinhamento.
A declinação magnética estimada (D) para o ponto central da pista (ARP) foi de –21,63° para este exemplo. Esse valor indica que o norte magnético está deslocado 21.63 graus a oeste do norte verdadeiro, o que caracteriza uma declinação negativa.
Com a declinação magnética conhecida (D), é possível calcular o Rumo Magnético da pista (Rm) a partir do Rumo Verdadeiro (Rv) utilizando a fórmula:
Rm = Rv – D

Obtemos então o rumo magnético de 109.514° para a cabeceira 1 e 289.514° para a cabeceira 2.
Numeração das Cabeceiras
Por fim, para obter as numerações de cada cabeceira:
Pegue o rumo magnético (em graus decimais).
Divida por 10.
Arredonde o resultado para o número inteiro mais próximo.
O número final será a designação da cabeceira, entre 01 e 36.
Fazendo isso para o exemplo mostrado:
Cabeceira 1:
Rm = 109.514°
109.514 ÷ 10 = 10.9514 → arredondado para 11
Numeração = 11
Cabeceira 2:
Rm = 289.514°
289.514 ÷ 10 = 28.9514 → arredondado para 29
Numeração = 29
Resultado: Cabeceiras 11 e 29
Vamos mostrar mais 2 exemplos:
Rumos magnéticos: 108.214° e 288.214°
Cabeceira 1:
Rm = 108.214°
108.214 ÷ 10 = 10.8214 → arredondado para 11
Numeração = 11
Cabeceira 2:
Rm = 288,214°
288.214 ÷ 10 = 28.8214 → arredondado para 29
Numeração = 29
Resultado: Cabeceiras 11 e 29
Rumos magnéticos: 104.499° e 284.499°
Cabeceira 1:
Rm = 104.499°
104.499 ÷ 10 = 10.4499 → arredondado para 10
Numeração = 10
Cabeceira 2:
Rm = 284.499°
284.499 ÷ 10 = 28.4499 → arredondado para 28
Numeração = 28
Resultado: Cabeceiras 10 e 28
A numeração das cabeceiras é diretamente influenciada pelo rumo magnético, obtido a partir do alinhamento da pista corrigido pela declinação magnética local. Mesmo variações decimais pequenas podem alterar a designação, tornando essencial a aplicação correta da regra de arredondamento conforme as normas internacionais.
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