Ideologia, Representação e Distorção nas Projeções Cartográficas
- Adauto Costa

- 5 de jul.
- 4 min de leitura
A seguir iremos realizar um rápido estudo de como uma Projeção Cartográfica também pode estar carregada de Ideologia.
A projeção cartográfica é uma técnica que envolve a representação de posições de uma superfície em outra. As superfícies utilizadas são chamadas de superfície de referência e superfície de projeção. O estudo da representação de superfícies por meio de curvas paramétricas é conhecido como Geometria Diferencial, e ao aplicá-la às projeções cartográficas, é possível estabelecer uma conexão entre as duas superfícies.
Na cartografia, a Geometria Diferencial é útil para estabelecer funções biunívocas que permitem a transformação de espaços entre a superfície de referência e a superfície de projeção. Essas funções são criadas a partir de condições iniciais e propriedades que caracterizam a nova superfície. Dessa forma, é possível escolher as superfícies e características desejadas para desenvolver as funções. Além disso, as funções biunívocas contêm informações que permitem avaliar o comportamento dos elementos transformados.

Assim, as projeções cartográficas são métodos matemáticos que permitem transformar as coordenadas geográficas (latitude e longitude) em pontos em um mapa plano, preservando certas propriedades geográficas enquanto distorcem outras. Existem diversas projeções cartográficas, cada uma com suas características específicas e usos mais adequados, dependendo do propósito do mapa e da região que está sendo representada. É fácil verificar que a escolha de uma projeção específica pode refletir as escolhas culturais, políticas e ideológicas e pode afetar a forma como as pessoas percebem e interpretam a geografia do mundo.
A Projeção de Mercator
Criada pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator em 1569, foi amplamente utilizada durante a Era dos Descobrimentos e da colonização europeia, pois facilitava a navegação em direção ao norte e ao sul, pois conserva os ângulos e mantém as linhas de longitude e latitude como linhas retas. Nesta projeção, as áreas próximas ao Equador são representadas de forma bastante precisa, mas à medida que se move em direção aos polos, as áreas são cada vez mais distorcidas. Isso faz com que a Groenlândia e a Sibéria pareçam maiores do que realmente são, enquanto a África e a América do Sul parecem menores do que realmente são. Clique aqui e veja o formulário matemático da transformação.

No entanto, essa projeção pode ser questionada por muitos, especialmente por cartógrafos de países do sul, por enfatizar excessivamente o hemisfério norte e por distorcer a perspectiva geográfica do mundo. Por ser vista por alguns como uma projeção eurocêntrica, enfatiza a importância e o poder dos países europeus durante a Era dos Descobrimentos e da colonização. Isso ocorre porque essa projeção foi criada por um cartógrafo europeu e foi amplamente utilizada pelos países europeus para navegação e colonização. Como resultado, a projeção pode ter perpetuado uma visão de mundo que enfatiza a perspectiva do hemisfério norte em detrimento das perspectivas do hemisfério sul.
A Projeção de Gall-Peters
É uma projeção cartográfica desenvolvida pelo matemático alemão Johann Heinrich Louis Krüger em 1909 e posteriormente popularizada pelo historiador e cartógrafo alemão Arno Peters na década de 1970.
Nesse tipo de projeção, o modelo geométrico da superfície da Terra é projetada em um cilindro tangente ao equador terrestre. Esse cilindro é então desenrolado para formar um mapa plano. Ao contrário da projeção de Mercator, que distorce as áreas dos países, a Projeção de Peters mantém as áreas dos países proporcionalmente corretas. No entanto, a projeção distorce as formas dos países, especialmente na região dos polos. Também tem uma escala uniforme em todas as direções, o que significa que a distância entre os pontos é proporcionalmente correta em todas as direções no mapa. Isso é diferente da projeção de Mercator, que tem uma escala uniforme apenas ao longo do equador.

Embora a projeção seja frequentemente associada a uma agenda política de esquerda, é possível discutir seus aspectos filosóficos sem viés partidário. Do ponto de vista filosófico, a Projeção de Peters levanta questões importantes sobre a natureza da representação e da percepção do mundo. A projeção mostra que a representação cartográfica da Terra não é neutra, mas é influenciada por fatores culturais, históricos e políticos. Ela também destaca a importância de questionar nossas suposições e preconceitos culturais e ideológicos na construção de nossa visão do mundo.
Vale ressaltar que o cartógrafo europeu Arno Peters , em 1942, recebeu seu diploma em doutorado na Universidade de Berlim, com uma dissertação sobre propaganda política.
Ideologia, Representação e Distorção
Como a Terra pode ser geometricamente simplificada à uma esfera ou elipsoide, é impossível representar a sua superfície em um mapa plano sem distorcer algumas características geográficas, como tamanho, forma, direção e distância, uma vez que toda representação cartográfica é uma interpretação da realidade geográfica, e não uma reprodução exata dela, ou seja, os mapas são construções humanas que refletem as escolhas e crenças dos cartógrafos que os criam.
Alguns podem dizer que do ponto de vista filosófico, a projeção de Peters reflete uma perspectiva mais igualitária e justa, ao retratar as áreas dos continentes de forma proporcional, em vez de privilegiar certas regiões em detrimento de outras. Por outro lado, a projeção de Mercator, embora distorça as áreas, é considerada útil para a navegação e para a representação precisa das direções e distâncias.
Assim, a escolha de qual projeção utilizar em um mapa pode refletir diferentes perspectivas filosóficas e prioridades, como a busca por uma representação mais justa e equilibrada, ou a necessidade de precisão e funcionalidade para fins práticos.
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